Catolicismo no Brasil
O cristianismo chegou no Brasil já no descobrimento
territorial português, e lançou profundas raízes na sociedade desde o primeiro
momento de interação portuguesa com os habitantes indígenas. Durante o período
de colonização, ordens e congregações religiosas assumem serviços nas paróquias
e dioceses, a educação nos colégios, a evangelização do indígena
e inserem-se na vida do país.
Frades franciscanos apareceram nas capitanias com
precocidade. As missões propriamente ditas se instalaram mais tarde: em 1549
seis jesuítas (padres da Companhia de Jesus) acompanharam o
governador-geral Tomé de Sousa, chefiados pelo padre Manuel da Nóbrega; ficaram famosos o padre José de Anchieta e o Padre João de Azpilcueta Navarro. Os carmelitas descalços chegaram em 1580, as
missões dos beneditinos tiveram início em 1581, as dos franciscanos
em 1584, as dos oratorianos em 1611, as dos mercedários
em 1640, as dos capuchinhos em 1642. Durante o século XVI e o
século XVII, a legislação buscou certo equilíbrio entre Governo central e
Igreja, tentando administrar os conflitos entre missionários, colonos e índios.
Até meados do século XVIII,
o Estado
controlou a atividade eclesiástica na colônia por meio do padroado.
Arcava com o sustento da Igreja e impedia a entrada no Brasil de outros cultos,
em troca de reconhecimento e obediência. O Estado nomeia e remunera párocos
e bispos
e concede licença para construir igrejas. Confirma as condenações dos tribunais
da Inquisição e escolhe as formas de punição; em contrapartida,
controla o comportamento do clero, pela Mesa da Consciência e Ordens, órgão
auxiliar do Conselho Ultramarino.
Em 1707, com as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, elaboradas por bispos em uma reunião em Salvador, a hierarquia da Igreja
conquista mais autonomia. As constituições uniformizam o culto, a educação, a
formação do clero e a atividade missionária. Não impedem, porém, o agravamento
dos conflitos entre colonos
e padres,
em torno da escravização dos índios,
que desembocam no fechamento da Companhia de Jesus pelo Marquês de Pombal em 1759. Nas décadas de 1860
e 1870, a Santa Sé,
em Roma,
decreta regras mais rígidas de doutrina e culto. Bispos brasileiros, como Dom Antônio de Macedo Costa, Bispo de Belém do Pará e Dom Vital de
Oliveira, Bispo de Olinda,
acatam as novas diretrizes e expulsam os maçons
das irmandades. Isso não é aceito pelo governo, muito ligado à maçonaria, dando
início à chamada Questão religiosa, culminando com o
encarceramento e trabalhos forçados destes bispos em 1875.
Em 7 de janeiro de 1890, logo após a proclamação da República, é decretada a
separação entre Igreja e Estado. A República
acaba com o padroado, reconhece o caráter leigo do Estado e garante a liberdade
religiosa. Em regime de pluralismo religioso e sem a tutela do Estado, as
associações e paróquias passam a editar jornais e revistas para combater a
circulação de idéias anarquistas, comunistas ou protestantes.
A partir da década de 30, o projeto
desenvolvimentista e nacionalista de Getúlio
Vargas influencia a Igreja no sentido de valorização da identidade
cultural brasileira. Assim, a Igreja expande sua base social para além das
elites, abrindo-se para as camadas médias e populares. A Constituição
de 1934 prevê uma colaboração entre Igreja e Estado. São atendidas as reivindicações
católicas, como o ensino religioso facultativo na escola pública e a presença
do nome de Deus na Constituição. Nessa época, o instrumento de ação política da
Igreja é a Liga Eleitoral Católica
(LEC), que recomenda os candidatos que se comprometem a defender os interesses
do catolicismo.
Multidão
de fiés no Santuário Nacional durante
celebrações da visita do Papa ao Brasil em maio de 2007.
Contra a ascensão da esquerda, a Igreja apóia a
ditadura do Estado Novo em 1937. São do período os círculos
operários católicos, favorecidos pelo governo para conter a influência
da esquerda.
Em 1952 é criada a Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB), que coordena a ação da Igreja no país. No final dos
anos 50, a Igreja preocupa-se com questões sociais geradas pelo modelo de
capitalismo no país, como a fome e o desemprego. Em 1960, a Juventude Universitária Católica
(JUC), influenciada pela Revolução Cubana, declara sua opção pelo socialismo.
Pressões de setores conservadores da Igreja levam os militantes da JUC a criar
um movimento de esquerda, a Ação Popular
(AP). Na época, a Igreja está dividida quanto às propostas de reformas de base
do presidente João Goulart.
Com o Regime
Militar de 1964 crescem os conflitos entre Igreja e Estado. A partir
de 1968, com o Ato Institucional nº 5 (AI-5), há uma ruptura
total diante da violenta repressão - prisões, torturas e assassinatos de
estudantes, operários e padres e perseguições aos bispos. Na época, a Igreja
atua em setores populares, com as comunidades eclesiais de base. Inspiradas
na Teologia da Libertação, elas vinculam o
compromisso cristão e a luta por justiça social. Os abusos
contra a ordem jurídica e os direitos
humanos levam a Igreja a se engajar fortemente na luta pela
redemocratização, ao lado de instituições da sociedade civil.
Ao longo dos anos 80 e 90, com a redemocratização
da sociedade brasileira e com alguns de seus ensinamentos fortemente criticados
pela Santa Sé,
a Teologia da Libertação perde parte de sua influência. Nesse período cresce o
vigor da Renovação Carismática Católica,
surgida nos EUA. Em oposição à politização da Teologia da
Libertação, o movimento busca uma renovação em práticas tradicionais do
catolicismo pela ênfase numa experiência mais pessoal com Deus.
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